Rendição

Se me fosse pedido para descrever a vida em apenas uma palavra, rendição, seria a escolhida.

Desde que nascemos até partirmos deste plano físico, os convites diários são para observar, receber e agradecer.

O acto de nascer é o maior testemunho a esta forma de viver..
Quando acabamos de nascer e abrimos as mãos para tocar o ar que nos acaricia, não fazemos nenhum esforço para o guardar só para nós, num qualquer bolso de uma roupa que ainda nem temos.
Apenas desfrutamos e agradecemos, soltando, pouco depois, risos e gargalhadas, de quem conhece a formula da vida e o elixir da eterna felicidade.

Até o ar que respiramos, apenas o temos emprestado, por momentos, enquanto nos preenche de vida, antes de ser devolvido para preencher de vida outro organismo, com o que para nós seria tóxico.
As árvores ganham vida ao inspirar o que expiramos.

Irónico não é, pelo menos um pouco, enquanto pensamos no que é certo e errado.

O que a um ser tiraria a vida, dá a outro a sua.

Tentar guardar o ar, neste caso, significaria acabar com ele.

Apenas na troca ele se renova, apenas com a troca, temos ar para respirar.

Até na partida, o último suspiro deixa-nos uma importante lição a aprender, nem o ar levamos connosco, e o último movimento que fazemos é para dar, expiramos e deixamos todo o ar que estava dentro de nós.

E ao se apagar a faísca da vida, passamos um Portal, onde só as lições importantes e emoções positivas passam, tudo o resto é demasiado denso ou pesado e por isso fica para trás, servindo de alimento à terra, concluindo assim mais um ciclo de vida.

Se transportamos esta analogia para todos os campos da nossa vida, facilmente percebemos que é na aceitação, rendição e troca, que temos tudo o que realmente precisamos, tudo o que nos faz feliz.

Ao assistir a um nascer ou pôr do sol, à chuva que caindo nutre o solo que nos alimenta, ao simples sorriso inesperado que nos anima e ao abraço que nos conforta, percebemos que o que faz da vida um palco de emoções único, é o facto de ser sempre provido de acções ou eventos que não controlamos de forma alguma.

Nesta realização, percebemos que é aceitando o que a vida nos dá, rendendo o controlo que não temos, sobre o que vemos ou recebemos, que tiramos o mais profundo proveito, do verdadeiro milagre que é viver.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *